Por Renate Ritzel MelgarFotos: Tuber Mello e Maicon SeveroQuem nunca ouviu falar do Bumba-meu-boi? A folclórica festa da região Norte do Brasil, que possui como palco principal, no país, o município de
Parintins, no Amazonas, também acontece em solo gaúcho. No estado, a celebração era comum em Porto Alegre e Santo Antônio da Patrulha, mas só em Encruzilhada do Sul a tradição se mantém viva até os dias de hoje.
Tradicionalmente, a festa do
Bumba-meu-boi ocorre no final do mês de junho, mas no Rio Grande do Sul é realizada no primeiro sábado após o carnaval.
Oficializada pela
Prefeitura Municipal em 13 de fevereiro de 1991, a festividade faz parte do calendário oficial de eventos de
Encruzilhada do Sul e é uma das comemorações mais populares do município e região.
A “farra do boi”, como é conhecida pelos gaúchos, é um pouco diferente das típicas festas do Norte e Nordeste do Brasil. Aqui, a festa do Bumba possui um único boi, o qual é feito com uma armação de varas de ferro, coberta de tecidos e alguns adereços. A cabeça é constituída de uma autêntica caveira de boi forrada de tecido e os chifres, também originais, levam fitas, guizos e cincerros de bronze para fazer barulho.
Conduzido por um homem que o carrega sobre os ombros, o boi é acompanhado do tropeiro, que comanda a apresentação, do veterinário e dos campeiros, os quais, em meio a esbarrões, vão parando em casas e estabelecimentos para pedir doações. A festa inicia com a correria do boi pelos arredores do município, o qual realiza seu percurso até chegar à rua principal, onde uma grande multidão o espera:
− Quando anoitece, os comandantes da festa saem pelas ruas da cidade até chegar à Praça Central, onde são aguardados por adultos e crianças que se divertem fugindo do boi. A brincadeira é realizada por 12 homens de todas as idades e se estende até a madrugada – explica Célia Teixeira, 43 anos, moradora natural de Encruzilhada do Sul e freqüentadora da festa desde os cinco anos de idade.
A festividade, que ocorre há 152 anos no Estado, foi resgatada no município encruzilhadense, há mais de quatro décadas, por Firmino Silveira e pelo historiador Humberto Fossa. Desde lá, o conhecido “Mestre Firmino”, falecido em 2007, comandou a festa por 40 anos. Em 2004, o Mestre recebeu o Troféu “Cultura Gaúcha”, em reconhecimento à sua contribuição à cultura do Estado.
− O
folguedo do Bumba-meu-boi é uma herança trazida a todos os municípios povoados por açorianos, como os do Vale do Rio Pardo, onde Encruzilhada do Sul está localizada. Firmino Silveira cresceu acompanhando, desde pequeno, a brincadeira nas ruas após o carnaval, que é muito representativo no nosso município. Depois de adulto, Firmino viu a tradição ser esquecida e, para impedir que ela fosse definitivamente perdida, decidiu fazer o boi renascer. Por isso, seu nome jamais será esquecido na história cultural do nosso Estado – conta a diretora do Departamento de Cultura de Encruzilhada do Sul, Volny Carvalho da Silva.
Mestre Firmino, com 82 anos, comandando a festa
A partir de 2008, a festa passou a ser comandada por Diogo Silveira Kucharski, neto de Firmino, e sua equipe.
− Substituir o meu avô como comandante oficial do Bumba-meu-boi é motivo de grande orgulho para mim. No primeiro carnaval após sua morte, em 2008, pensamos em não realizar a festa, mas ele não queria que a festa parasse, então continuamos – declara Kucharski.
Este ano o trajeto do boi voltou a fazer seu caminho original, uma vez que, no ano passado, o boi partiu da Casa de Cultura Humberto Fossa, em função do falecimento do mestre Firmino. Apesar da mudança de comandante, a festa do Bumba-meu-boi de Encruzilhada do Sul continua fazendo sucesso como nos anos anteriores. Prova disso foi o último evento, que atraiu mais de seis mil pessoas.
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Fontes: Rosane Volpato, Prefeitura de Encruzilhada do Sul, Prefeitura de Parintins, UOL.
Colaboradores: Etyenne Gomes e José Roberto Correa Sobrinho